Uso dos canais digitais cresce, mas longas filas nos ATMs continuam
Apesar do avanço significativo dos canais digitais bancários em Angola, sobretudo do Multicaixa Express, as longas filas nos caixas automáticos (ATMs) ainda persistem como realidade nas zonas urbanas e suburbanas. Essa contradição revela uma transição digital em curso, mas ainda marcada por desafios estruturais e culturais.
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Os dados mais recentes indicam que o Multicaixa Express movimenta atualmente mais dinheiro e realiza mais operações que os próprios ATMs. Em julho de 2024, o canal digital já representava 36,3% do valor total movimentado, superando os 34,5% dos ATMs, com um crescimento que continua em 2025.
No primeiro trimestre deste ano, o Multicaixa Express contabilizou 401 milhões de operações, o que representa 58% do total de transações na rede Multicaixa, consolidando-o como o principal canal digital de pagamentos em Angola. Este crescimento expressivo deve-se a diversos fatores. Um dos mais evidentes é a vontade dos utilizadores em evitar filas, sobretudo no final do mês, quando a procura por levantamentos aumenta. Além disso, há um aumento visível da literacia digital, especialmente entre os jovens entre 18 e 30 anos, que têm maior escolaridade e familiaridade com novas tecnologias. Para reforçar a confiança dos utilizadores, a EMIS implementou recentemente um Centro de Operações de Segurança (SOC), que permite monitorizar as operações em tempo real, aumentando a segurança do sistema.
Outro atrativo do canal digital é a multiplicidade de funcionalidades: pagamentos, consultas e até levantamentos sem cartão físico estão entre as opções disponíveis. A praticidade tem conquistado muitos angolanos, mesmo entre os que antes dependiam exclusivamente dos ATMs. Em termos numéricos, os dados revelam uma tendência clara: no primeiro semestre de 2024, foram realizadas 461 milhões de operações via Multicaixa Express, movimentando 5,4 biliões de kwanzas, quase o dobro do mesmo período do ano anterior. Isso representa um aumento de 96%, demonstrando não só a confiança no canal, mas também a sua eficiência.
No entanto, os ATMs ainda detêm um papel de relevância. No mesmo período, os caixas automáticos movimentaram 5,5 biliões de kwanzas, resultado de 242 milhões de operações. Embora o número de transações seja inferior, o volume financeiro ainda é ligeiramente superior ao do canal digital. Isso mostra que, apesar da ascensão do Multicaixa Express, a economia angolana continua a depender fortemente do uso do dinheiro físico. As longas filas nos ATMs são consequência dessa dependência, especialmente em zonas com menor acesso à internet ou baixo nível de literacia digital.
A redução das filas e a modernização do sistema bancário nacional dependem de soluções integradas. O aumento do uso de canais digitais como POS móveis, terminais USSD e a expansão da cobertura de rede são fundamentais para facilitar o acesso e promover a inclusão financeira. Ainda assim, persistem barreiras relevantes, como a cultura de desconfiança nos serviços digitais, o receio de fraudes e a dificuldade de adaptação por parte de alguns grupos da população.
A conclusão a que se chega é que o Multicaixa Express já ultrapassou os ATMs em número de operações e valor transacionado em muitos contextos, simbolizando uma viragem para a era digital no setor financeiro angolano. Contudo, as longas filas demonstram que ainda existe um percurso a ser trilhado. Investir em educação digital, ampliar os meios alternativos de pagamento e melhorar a infraestrutura tecnológica são passos indispensáveis para garantir que todos os cidadãos beneficiem dos avanços tecnológicos e que o sistema financeiro nacional se torne mais eficiente, acessível e seguro.